sexta-feira, 18 de maio de 2012

Patrimônio Geológico


1. Atividade desenvolvida

A primeira referência que se conhece relativa à protecção do património geológico é a de A. J. Marques da Costa, num trabalho dedicado à Pedra Furada em Setúbal, publicado no volume XI, 1916, p.115, das Comunicações dos Serviços Geológicos. “A Pedra Furada é um exemplar geológico muito raro senão único e que deve, por isso mesmo, ser conservado à vista de todos os visitantes. Já, por vezes, tem estado em risco de desaparecer para dar lugar à passagem de uma estrada ou à construção de qualquer oficina. Pessoas inteligentes têm intervindo para evitar tais vandalismos, que aliás a actual proprietária do terreno, em que se acha esse notável exemplar é a primeira a não consentir. Oxalá que os futuros sucessores da actual dona pensem do mesmo modo que ela ou, ainda, que qualquer entidade oficial adquira o terreno, para que se assegure definitivamente a existência desta manifestação, digna do estudo dos competentes, que nela procurem a explicação do modo como se formou”.
Desde há vários anos que os Serviços Geológicos de Portugal e os organismos que lhe sucederam (Instituto Geológico e Mineiro, Geociências do INETI) desenvolveram diversas ações visando a caracterização, o estudo, a protecção e a divulgação do  património geológico. Podemos, então, indicar as principais ações:
Proposta de classificação em 1978 dos seguintes locais: lapiás de Cascais-Guincho, duna consolidada de Oitavos, dunas actuais da Crismina, litoral entre o Guincho e Praia das Maçãs, lapiás da Pedra Furada, litoral entre Sesimbra e o Seixalinho, Cabo Mondego e arriba fóssil da Costa da Caparica.
Publicação de guias geológicos para diversas Áreas Protegidas (ver adiante a lista respectiva).
Realização do V Congresso Nacional de Geologia, (1998), que teve uma Secção de Patrimônio Geológico, onde foram apresentados 9 trabalhos (publicados no Vol. 84 (2) das Comunicações do Instituto Geológico e Mineiro).
Realização do 1º. Seminário sobre Património Geológico (1999) em que foram apresentados 16 trabalhos (Publicação especial destinada aos participantes).
Projecto Geo-Sítios que compreende fichas com a caracterização de cerca de uma centena de sítios com interesse geológico, e que está em desenvolvimento.

2. Publicações de guias geológicos

MOREIRA, A. e RIBEIRO, M. LUÍSA - 1991 - Carta Geológica do Parque Nacional da Peneda-Gerês, à escala 1/50.000 e Notícia Explicativa. Serv. Nac. Parques, Reservas e Conservação da Natureza e Serviços Geológicos de Portugal.
RIBEIRO, M. LUÍSA - 1997 - A geologia da Peninha, Sintra. Parque Natural de Sintra-Cascais e Instituto Geológico e Mineiro.
RIBEIRO, M. LUÍSA e RAMALHO, M. M. - 1997 - Carta Geológica Simplificada do Parque Natural de Sintra-Cascais à escala 1/50.000 e Notícia Explicativa. Parque Natural de Sintra-Cascais e Instituto Geológico e Mineiro.
FERREIRA, N. e VIEIRA, G. - 1999 - Guia geológico e geomorfológico do Parque Natural da Serra da Estrela. Locais de interesse geológico. Instituto Geológico e Mineiro e Instituto da Conservação da Natureza.
RIBEIRO, M. LUÍSA e SILVA, A. F. - 2000 - Carta Geológica Simplificada do Parque Arqueológico do Vale do Côa à escala 1/80.000 e Notícia Explicativa. Instituto Geológico e Mineiro e Parque Arqueológico do Vale do Côa.
RIBEIRO, M. L. e RAMALHO, M. - 2002 - Reserva Natural das Berlengas. Aspectos da Geologia. ICN. - Reserva Natural das Berlengas e Instituto Geológico e Mineiro (desdobrável).
RAMALHO, M. M. (coord.) - 2000-2007 - Carta Geológica Simplificada do Parque Natural da Ria Formosa, Reserva Natural da Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António e região envolvente, à escala 1/100.000 e Notícia Explicativa. Instituto Geológico e Mineiro, INETI, Instituto de Conservação da Natureza e CUF.
NOTA: estas publicações devem ser pedidas às sedes dos respectivos Parques.

3. Museu Geológico

Não se pode deixar de considerar o Museu Geológico como um dos mais importantes valores do patrimônio geológico.
Foi criado pela Comissão Geológica do Reino (1857) que, a partir de 1859, se instalou no local que o Museu actualmente ocupa, quase 150 anos depois, no 2º. piso do edifício do antigo Convento de Jesus, em Lisboa.
Com as colecções estratigráficas e paleontológicas mais completas do território, a que se juntam a muito importante colecção de arqueologia pré-histórica e, ainda, as de minerais, rochas e equipamento científico histórico, o Museu Geológico detém um acervo único no País, que está aberto aos investigadores nacionais e estrangeiros.
A isto acresce, o seu excepcional interesse histórico-museológico, dado que as salas de exposição conservam, ainda, muito da “atmosfera” dos finais do século XIX, já rara neste tipo de instituições. É por este motivo que os especialistas o consideram um “museu dos museus”. Não menos valioso, também, é o fato do Museu Geológico se situar no local onde nasceram a Geologia e a Arqueologia portuguesas.
Atendendo a estes valores patrimoniais o Museu Geológico foi integrado na Rede Portuguesa de Museus em 2003.
A protecção deste patrimônio precioso e insubstituível é um dever do Estado Português mas, também, de todos os cidadãos e instituições científicas nacionais.

http://www.lneg.pt/CienciaParaTodos/patrimonio/patrimonio -- Acesso em 14.05.12 .

5° Tema - PATRIMÓNIO GEOMORFOLÓGICO



 Conceitualização
Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia de Ciências de Lisboa (2000), patrimônio pode ser o “conjunto de bens materiais e imateriais transmitidos pelos antepassados e que constituem herança coletiva”. Têm valor patrimonial os bens que devemos transmitir aos nossos descendentes no melhor estado possível, aqueles que, pelas suas características particulares (culturais e/ou naturais), necessitam de medidas especiais de proteção (Donadieu, 1986, in Grandgirard, 1997a).
Compete ao Estado e a cada cidadão a valorização desse patrimônio, sendo a sua gestão um dos aspectos essenciais do ordenamento do território. Esta concepção patrimonial de determinados bens tem sido adotada ao longo dos tempos pelos governantes, contribuindo para a sua preservação. Nesta ordem de idéias, patrimônio é um conceito de classificação, de legalização, existindo documentos legais relacionados com a questão, no sentido de preservar e valorizar esses bens.
O patrimônio pode ser cultural ou natural. O termo patrimônio é utilizado na maior parte das vezes como sinônimo de patrimônio cultural. Da mesma forma que um edifício histórico pode ser avaliado como um bem cultural a preservar (monumento), também elementos e processos naturais podem e devem ser considerados como bens a valorizar e a preservar. O patrimônio cultural tem natureza humana, podendo designar-se de construído. São os bens que pelo seu interesse relevante para a permanência e identidade de uma cultura, devem ser objeto de regime próprio de proteção (Fernandes, 2004). Pode assumir várias formas, de acordo com as diversas atividades humanas. Pode ser patrimônio arquitetônico, arqueológico, artístico, científico, industrial.
O patrimônio natural é o patrimônio não construído. O ambiente natural constitui a base de todas as formas de vida e do Homem em particular. Pela sua complexidade, dinâmica e sensibilidade, o ambiente natural e a sua história representam um patrimônio para as sociedades humanas (Martini, 1994; Grandgirard, 1997a).
Fonte:
Academia de Ciências de Lisboa (2000) - Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, Vol. II (G-Z), Editorial Verbo, 1959 p.

Fernandes J. P. (Dir.) (2004) - Dicionário Jurídico da Administração Pública, INA, Vol. VI, 674 p.

Grandgirard V. (1997a) - Géomorphologie et gestion du patrimoine naturel. La mémoire de la Terre est notre mémoire. Geographica Helvetica, 2, 47-56.






segunda-feira, 7 de maio de 2012

Geopark no Brasil

 

Há um projeto da CPRM, intitulado "Projeto Geoparques", que tem por objetivo identificar áreas no Brasil com as características de um Geoparque no conceito da Unesco: conheça mais sobre o projeto no site oficial da CPRM,
 clicando aqui.

Atualmente, apenas o Geopark Araripe é reconhecido pela Unesco, mas seis territórios são aspirantes à Rede Global de Geoparks:



  • Bodoquena Pantanal (MS) - aspirante à rede mundial - e

  • Quadrilátero Ferrífero (MG) - também aspirante à rede mundial.

  • Vale do Ribeira (SP); 

  • Vale do Tietê (SP); 

  • Búzios (RJ); 

  • Campos Gerais (PR);





4º Tema : Geodiversidade

O QUE É GEODIVERSIDADE?

(por Sheydder)

O termo geodiversidade começou a ser divulgado recentemente, na década de 1990, por geólogos e geomorfólogos que buscavam estudar a natureza na sua vertente geológica. É difícil dizer ao certo quando o termo foi utilizado pela primeira vez, mas sabe-se que os primeiros trabalhos foram realizados na Tasmânia (Austrália) e principalmente no Reino Unido, em 1993, na Conferência de Malvern sobre Conservação Geológica e Paisagística (BRILHA, 2005).

Entende-se por geodiversidade a variação natural dos aspectos geológicos (rochas, minerais, fósseis), geomorfológicos (formas e evolução de relevo) e do solo. É importante ressaltar que a geodiversidade não inclui apenas elementos abióticos da natureza, mas também os bióticos (ARAÚJO, 2005).

Azevedo (2007) define geodiversidade como a variação litológica das rochas, os processos geológicos, a diversidade dos solos e como os afloramentos estão dispostos na superfície da Terra.

Para a Associação Européia para a Conservação do Patrimônio Geológico (PROGEO) e para a Sociedade Real da Conservação da Natureza do Reino Unido, geodiversidade consiste na variedade de ambientes geológicos, fenômenos e processos ativos geradores de paisagem (relevo), rochas, minerais, fósseis, solos e outros depósitos superficiais que constituem a base para a vida na Terra (AZEVEDO, 2007).

A geodiversidade é o resultado dos processos interativos entre a paisagem, a fauna, a flora e a nossa cultura. A geologia e a geomorfologia determinam a distribuição dos habitats, das espécies e dita como o homem organiza seu espaço geográfico. Porém, o interesse pela geodiversidade ainda é inferior ao interesse pela biodiversidade por parte da sociedade (ARAÚJO, 2005).


Figura 1
Aspectos interativos da geodiversidade
SILVA, 2008

A pouca divulgação deve-se ao fato dos termos geológicos não estarem presentes na linguagem cotidiana e são pouco usados por outros profissionais, assim, torna-se necessário adaptar o vocabulário geológico, conservando o valor científico, à divulgação, conservação e conscientização. Trata-se de criar uma cultura geológica na sociedade de forma geral, humanizando a geologia, utilizando para isso, ferramentas de comunicação (MOREIRA, 2008)

Em 2006, quando digitada a palavras geodiversidade em ferramentas de busca da internet, apareciam, no Brasil, cerca de 25 mil ocorrências, enquanto o termo biodiversidade aparecia por volta de 2 milhões de vezes. Atualmente o número de ocorrências de geodiversidade aumentou para quase 28 mil e isso se deve aos esforços de pesquisadores no mundo todo para a divulgação do termo.

O triênio 2007-2009 foi escolhido para que sejam intensificados os estudos de valorização, divulgação e preservação da geodiversidade e 2008 foi escolhido como o Ano Internacional da Terra (BRILHA, 2005).

O aspecto robusto da maior parte das rochas confere aos objetos geológicos uma aparência de resistência e durabilidade, porém a geodiversidade encontra-se ameaçada em diferentes escalas e em intensidades distintas (LIMA, 2008).

Entre as principais ameaças podemos citar: as atividades desordenadas de exploração dos recursos minerais; quando há o desenvolvimento de grandes obras e estruturas não projetadas e executadas de forma que minimizem os impactos negativos; a gestão desordenada de bacias hidrográficas; o crescimento de vegetação (reflorestamento) ou a erosão causada pelo desmatamento; agricultura intensiva e industrializada; atividades militares, recreativas e turísticas desregradas; coleta de amostras geológicas para fins não científicos e a falta de conhecimento técnico-científico da importância da geodiversidade (SILVA, 2008).

REFERÊNCIAS:
ARAÚJO, E.L.S. Geoturismo: conceitualização, implementação e exemplo de aplicação no Vale do Rio Douro no setor Porto Pinhão. Escola de Ciências. Tese de mestrado em Ciências do Ambiente da Universidade do Minho. Portugal, 2005, 219 p.

AZEVEDO, Úrsula Ruchkys de. Patrimônio geológico e geoconservação no Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais: potencial para a criação de um geoparque da UNESCO. 2007. 235f. (Tese de doutorado). Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte: 2007.

BRILHA, J.B.R. Patrimônio geológico e geoconservação: a conservação da natureza na sua vertente geológica. São Paulo: Palimage editora, 2005, 190p.

LIMA, Flávia Fernanda. Proposta metodológica para a inventariação do patrimônio geológicobrasileiro. 2008. 103f. (Dissertação de mestrado em Patrimônio Geológico e Geoconservação), Escola de Ciências, Universidade do Minho. Braga, Portugal, 2008. Disponível em: www.dct.uminho.pt/mest/pgg/index_pgg.html. Acesso em : 12 novembro 2008.

MOREIRA, J.C. Patrimônio geológico em unidades de conservação: atividades interpretativas, educativas e geoturisticas. Tese de doutorado. Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2008, 428p.
SILVA, C.R. da. Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado para entender o presente e prever o futuro. Rio de Janeiro, CPRM, 2008, 264p.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

3º Tema: Ameaças a Biodiversidade

           Metaforizando sobre as ameaças a Biodiversidade...  Imagine a seguinte situação: você passou toda a vida com sua família harmoniosamente em uma cidade onde estão seus melhores amigos, sua escola, o trabalho dos seus pais, mercados, lazer e tudo mais que você precisa para viver. De repente, chega um grupo de alienígenas e decide viver na sua cidade. Mas eles simplesmente tomam conta de tudo e deixam você sem nada do que possuía antes. Que opções você tem (se é que tem)? Resta mudar para outro lugar e enfrentar muitas dificuldades na tentativa de reaver sua vida anterior. É muito provável que você não tenha sucesso nessa empreitada e, neste caso, você pode não sobreviver à mudança. O desaparecimento da sua cidade vai causar além de tudo isso, uma quebra nas relações que seu povo tinha com outras cidades, como compra e venda de produtos, acordos de proteção mútua, etc. Ou seja, indiretamente, aquela ação dos alienígenas causou um grande desequilíbrio em toda a região. Outra hipótese seria a de que o seu povo decidisse lutar contra os forasteiros, o que causaria muitas perdas para os dois lados. Parece uma cena de filme de ficção científica, mas é o que acontece quando se fala em redução da biodiversidade. É importante lembrar que todos os seres, incluindo os humanos, estão conectados e dependem uns dos outros (como na cadeia alimentar, por exemplo). Desta forma, à medida que destruímos a biodiversidade, colocamos em risco nossa própria existência. (Painel da Biodiversidade-e.educacional).
           Como conseqüência dessa perda, as populações humanas sofrerão uma queda significativa da qualidade de vida, que refletirá diretamente em pontos como o suprimento de alimentos e manutenção da saúde, a vulnerabilidade a desastres naturais, redução e restrição do uso de energia, diminuição da oferta e distribuição irregular de água potável, aumento de doenças e epidemias, instabilidade social, política e econômica, entre outros.
           Um recente estudo mundial identificou mais nove áreas de grande diversidade ecológica que estão sob ameaça e que juntas abrigam grande parte das espécies de plantas e animais sob risco. "Nove locais foram identificados, entre os quais um que atravessa a fronteira do México com os EUA, um no sul da África, e um que abrange todo o Japão", afirmou o grupo Conservação Internacional, que participou da elaboração da análise. As descobertas elevam para 34 o número de locais importantes identificados por cientistas do mundo como ameaçados. Nesses locais vivem 75 por cento dos mamíferos, pássaros e anfíbios ameaçados, cujos habitat frágeis agora cobrem apenas 2,3 por cento da superfície da Terra.
            Essas áreas abrangiam, no passado, quase 16 por cento do planeta, fato que por si só dá a dimensão da ameaça representada pela atividade humana. Quase 400 cientistas e outros especialistas participaram do estudo de quatro anos, descrito em um livro intitulado "Hotspots Revisited" (revisão sobre locais-chave). Dois fatores centrais determinam a identificação desse tipo de local: uma grande concentração de espécies endêmicas (presentes apenas ali) e um alto grau de devastação. A área formada pelas ilhas de Madagáscar e do oceano Índico, por exemplo, possui 24 famílias de plantas e de vertebrados que não são encontradas em nenhum outro lugar da Terra. Alguns desses locais possuem menos de 10 por cento de sua área original, o que significa que, provavelmente, eles contiveram espécies não-identificadas e que se perderam para sempre. "Esses centros de biodiversidade são salas de emergência ambientais de nosso Planeta. Precisamos agir com decisão a fim de evitar a perda desses armazéns insubstituíveis de formas de vida", disse Russell Mittermeier.
Entre as principais causas da perda de biodiversidade, podemos citar:
v  - Destruição e diminuição dos hábitats naturais;

v  - Introdução de espécies exóticas e invasoras;

v  - Exploração excessiva de espécies animais e vegetais;

v  - Caça e pesca sem critérios;

v  - Tráfico da fauna e flora silvestres;

v  - Poluição do solo, água e atmosfera;

v  - Ampliação desordenada das fronteiras agropecuárias dentro de áreas nativas;

v  - Mudanças climáticas e aquecimento global.

            A poluição, o uso excessivo dos recursos naturais, a expansão da fronteira agrícola em detrimento dos habitats naturais, a expansão urbana e industrial, tudo isso está levando muitas espécies vegetais e animais à extinção. A cada ano, aproximadamente 17 milhões de hectares de floresta tropical são desmatados. As estimativas sugerem que, se isso continuar, entre 5% e 10% das espécies que habitam as florestas tropicais poderão estar extintas dentro dos próximos 30 anos.
            A sociedade moderna – particularmente os países ricos – desperdiça grande quantidade de recursos naturais. A elevada produção e uso de papel, por exemplo, é uma ameaça constante às florestas. A exploração excessiva de algumas espécies também pode causar a sua completa extinção. Por causa do uso medicinal de chifres de rinocerontes em Sumatra e em Java, por exemplo, o animal foi caçado até o limiar da extinção.
            Na Suécia, a poluição e a acidez das águas impedem a sobrevivência de peixes e plantas em quatro mil lagos do país. A introdução de espécies animais e vegetais em diferentes ecossistemas também pode ser prejudicial, pois acaba colocando em risco a biodiversidade de toda uma área, região ou país. Um caso bem conhecido é o da importação do sapo cururu pelo governo da Austrália, com objetivo de controlar uma peste nas plantações de cana-de-açúcar no nordeste do país. O animal revelou-se um predador voraz dos répteis e anfíbios da região, tornando-se um problema a mais para os produtores, e não uma solução.
               Para as taxas alarmantes de degradação de habitats e de extinção de espécies, identificam-se as seguintes ameaças à biodiversidade:
• Mudanças na utilização dos solos, que fragmentam, degradam e destroem os habitats. Esta mudança de afectação deve-se, principalmente, ao crescimento demográfico e ao aumento do consumo por habitante, dois factores que irão intensificar-se no futuro e gerar maiores pressões;
• Alterações climáticas, que destroem certos habitats e organismos, perturbam os ciclos de reprodução, obrigam os organismos móveis a deslocar-se;
• a sobre exploração dos recursos biológicos; a difusão de espécies alóctones invasivas; a poluição do ambiente natural e dos habitats; a mundialização, que aumenta a pressão devida ao comércio, e a má governação (incapacidade de reconhecer o valor econômico do capital natural e dos serviços ecossistêmicos).
              Você sabia que para satisfazer o padrão atual de consumo do homem, a Terra teria que aumentar em 20% sua capacidade de renovar os recursos naturais?
Portanto caros leitores, defender a biodiversidade não é “papinho de ambientalista”. É lutar pela nossa sobrevivência e a de nossos filhos, netos, bisnetos... É hora de repensar nossa posição como espécie dominante do Planeta e dar uma nova orientação à Ciência e à Tecnologia na busca de soluções que nos tirem desse caos em que vivemos. 1101748 – Josenir.

Referências Bibliográficas:
Myers, N. (1996) "The rich diversity of biodiversity issues" Documento PDF
Millennium Ecosystem Assessment (2005) "Causes of Biodiversity change", pp. 8-10. (disponibilizado no tópico 1)
Millennium Ecosystem Assessment (2005) "What are the current trends and drivers of biodiversity change and their trends", pp. 42-59 (disponibilizado no tópico 1) .

Links consultados, acessados em 13.04.12.
http://www.educacional.com.br/reportagens/biodiversidade/perda.asp

sábado, 31 de março de 2012

2º Tema: Valor da Biodiversidade

Ecólogos e ambientalistas são os primeiros a insistir no aspecto econômico da protecção da diversidade biológica. Deste modo, Edward O. Wilson escreveu em 1992 que a biodiversidade é uma das maiores riquezas do Planeta, e, entretanto, é a menos reconhecida como tal (la biodiversité est l'une des plus grandes richesses de la planète, et pourtant la moins reconnue comme telle).
A maioria das pessoas vê a biodiversidade como um reservatório de recursos que devem ser utilizados para a produção de produtos alimentícios, farmacêuticos e cosméticos. Este conceito do gerenciamento de recursos biológicos provavelmente explica a maior parte do medo de se perderem estes recursos devido à redução da Biodiversidade. Entretanto, isso é também a origem de novos conflitos envolvendo a negociação da divisão e apropriação dos recursos naturais.
Uma estimativa do valor da biodiversidade é uma pré-condição necessária para qualquer discussão sobre a distribuição da riqueza da Biodiversidade. Estes valores podem ser divididos entre:
  • valor intrínseco – todas as espécies são importantes intrinsecamente, por uma questão de ética.
  • valor funcional – cada espécie tem um papel funcional no ecossistema. Por exemplo, predadores regulam a população de presas, plantas fotossintetizantes participam do balanço de gás carbônico na atmosfera, etc.
  • valor de uso directo – muitas espécies são utilizadas directamente pela sociedade humana, como alimentos ou como matérias primas para produção de bens.
  • valor de uso indirecto – outras espécies são indirectamente utilizadas pela sociedade. Por exemplo criar abelhas em laranjais favorece a polinização das flores de laranja, resultando numa melhor produção de frutos.
  • valor potencial – muitas espécies podem futuramente ter um uso directo, como por exemplo espécies de plantas que possuem princípios activos a partir dos quais podem ser desenvolvidos medicamentos.
Porém, não conseguimos atribuir um valor financeiro à nossa própria vida, “ ainda que as companhias de seguro façam lá suas contas. Essas mesmas empresas, no entanto, não se arriscariam a fazer seus cálculos para a vida no Planeta - assim esperamos - pelo absurdo de que com o fim da biodiversidade não teríamos ninguém para receber ou pagar o prêmio do seguro “ . Paulo Coutinho.
Referências:
Edward O. Wilson. The Diverisity of Life,  1992. Harvard University Press, Cambridge, MA. 464 pages.

http://www.comciencia.br/reportagens/biodiversidade/bio12.htm.

Millennium Ecosystems Assessment (2005): Finding 3: The Value of Biodiversity pg. 6 2. Why is biodiversity loss a concern? pg. 30 (Material de estudo do MCAP- UC 22078).

1ª Temática- Os Conceitos de Biodiversidade

                                          
                                         Múltiplas percepções sobre Biodiversidade


A Biodiversidade é entendida sob diversas formas: alguns autores consideram-na como um conceito (Wilsom), uma entidade mensurável (Magurran), como grau de diferenciação taxonômica (Vane-Wright) ou uma preocupação sobre a redução acelerada da diversidade da vida (Browman). O caráter "pseudocognitivo" do conceito  de biodiversidade mostrou alguns aspectos na utilização de conceitos em Ecologia, como comunidade, ecossistema e estabilidade. Estes aspectos foram apontados por Mc Intosh (1985) e Williams (1993).

I-      Biodiversidade para os Ecólogos das Comunidades - Em Ecologia das Comunidades o conceito de diversidade tem sido associado a dois componentes distintos: riqueza e equitabilidade. As mais freqüentes a riqueza específica- o índice de informação e o índice de diversidade. A escolha dos diferentes índices de diversidade varia consoante o peso que se pretende conferir as espécies raras e comuns. Riqueza e equitabilidade - representam dois extremos do mesmo conceito dando a primeira medida mais peso relativo as espécies raras e a segunda maior ponderação as espécies comuns. Medidas não paramétricas de diversidade generalizaram-se a partir dos anos 60, (Hutchinson, 1959), lançando um debate sobre o significado evolutivo e ecológico da diversidade biológica. A generalização do uso de medidas de diversidade está relacionada com a hipótese diversidade-estabilidade, onde se postula que os ecossistemas são tanto mais estáveis, quanto maior a diversidade no sistema. Generalizando as idéias- a simplificação dos ecossistemas, no que respeita a sua composição em espécies (redução da diversidade), induz a uma redução da estabilidade e aumenta a suscetibilidade a invasões biológicas. Paralelo a isto tem surgido hipóteses alternativas (Johnson, 1996).
          Hipótese da Redundância- (Walker, 1992) – sugere que as espécies se agrupam em unidades funcionalmente equivalentes. O funcionamento dos ecossistemas não é afetado pela remoção de elementos redundantes, mais sim, pela afetação de “Key stones”, espécies com papel preponderante no funcionamento dos ecossistemas. Lawton (1994) introduz a hipótese nula, de que pode não existir relação alguma entre um e outro conceito. Recentemente estudos procuram detectar com análises empíricas eventuais padrões de regularidade entre categorias de ameaça entre espécies e grupos funcionais equivalentes.

II-   Biodiversidade para os Taxonomistas – medir a diferença entre os atributos taxonômicos. Ex: quanto maior o número de espécies por unidade de área, maior a probabilidade de assegurar uma elevada representação de caracteres genéticos. Numa abordagem mais complexa, as espécies não deverão ter o mesmo valor, atribuído ao fato em função do grau de diferenciação entre organismos. Vane-Wright et.al (1991) foram os primeiros a propor a aplicação do conceito para efeitos de avaliação da biodiversidade. O sistema proposto (root-weight) baseia-se na quantificação dos nós do cladograma até ao nível da espécie; é dada maior ponderação a espécie mais isolada do ponto de vista taxonômico (aquela que tiver menor número de nós). Segundo Erwin (1991), o processo de valorização de espécies isoladas taxonomicamente favorece a conservação de espécies na “senda ad extinção”.

III - Biodiversidade para os Conservacionistas – A herança naturalista, associada aos movimentos conservacionistas, valoriza o raro, o belo e o pouco habitual, o valor que se atribui ao raro não é bem diferente de “bem escasso” (Soulé, 1986). Os conceitos de raridade considerados unicamente pela extensão da distribuição geográfica é pouco informativos\; uma espécie pode ter uma distribuição mundial confinada a uma área restrita e ser bastante abundante e plástica no que concerne a utilização do se habitat. Rabinowitz (1981) esquematiza 07 combinações e formas de raridade em função da extensão da distribuição geográfica, dimensão da população e especificidade no uso do habitat.

Processos De Avaliação De Áreas Para Conservação

 Avaliação Exclusiva: Visa a seleção (segregação espacial) de áreas com estatuto especial para conservação da biodiversidade. Ex: Identificação de Parque e Reservas e outras áreas com estatuto especial. Para alcançar o objetivo defende-se a adoção de princípios orientadores: representatividade, viabilidade e vulnerabilidade.

Ø  Representatividade - procura assegurar a representação da totalidade (ou máximo) de atributos – objetivo (espécies presentes, ameaçadas), no espaço geográfico de referência; identificação de “hotspots” de riqueza, de raridade, ”Near mim set” por riqueza, “Near mim set” por raridade;
Ø  Viabilidade e Ameaça – conceitos diferentes por vezes utilizados indistintamente - está associado ao de “Minimum Vable Populacion (MVP)” e procura identificar a configuração espacial e quantitativo populacional mínimo para garantir uma probabilidade.
Ø  Vulnerabilidade – associada a fatores externos ao sistema biológico que podem afetar a viabilidade de uma determinada população. Ex: projetos de alterações de habitat, poluição, e qualquer outra forma de perturbação antrópica com efeitos nocivos para os taxa ou biótopos considerados.

Avaliação Inclusiva- Distinguem-se dos processos exclusivos por não incorporarem princípios de representatividade e objetivos de persistência de atributos. Seu objetivo não é a seleção de uma ou mais áreas num dado contexto geográfico, mas a obtenção de medidas escalonadas, de valor, comparáveis por forma a auxiliar processos de decisão em matéria de ambiente e ordenamento do território.

Considerações Finais – É conveniente distinguir a diferença entre quantificação de biodiversidade, quantificação de valor associado à biodiversidade e definição de prioridades de conservação. O primeiro implica na mensuração de uma quantidade sem que lhe seja atribuída um valor. O segundo implica a explicitação de objetivos, pressupostos e ou preferências. A mensuração de um valor deverá ser feita em função da contribuição potencial que em atributo confere a um objetivo predefinido. E o terceiro a definição de prioridades de conservação deverá corresponder ao objetivo de maximização do valor, associado a considerações sobre o nível de urgência das medidas de conservação. 1101748 Josenir Hayne Gomes (baseada no texto de Miguel Araújo).