sábado, 31 de março de 2012

1ª Temática- Os Conceitos de Biodiversidade

                                          
                                         Múltiplas percepções sobre Biodiversidade


A Biodiversidade é entendida sob diversas formas: alguns autores consideram-na como um conceito (Wilsom), uma entidade mensurável (Magurran), como grau de diferenciação taxonômica (Vane-Wright) ou uma preocupação sobre a redução acelerada da diversidade da vida (Browman). O caráter "pseudocognitivo" do conceito  de biodiversidade mostrou alguns aspectos na utilização de conceitos em Ecologia, como comunidade, ecossistema e estabilidade. Estes aspectos foram apontados por Mc Intosh (1985) e Williams (1993).

I-      Biodiversidade para os Ecólogos das Comunidades - Em Ecologia das Comunidades o conceito de diversidade tem sido associado a dois componentes distintos: riqueza e equitabilidade. As mais freqüentes a riqueza específica- o índice de informação e o índice de diversidade. A escolha dos diferentes índices de diversidade varia consoante o peso que se pretende conferir as espécies raras e comuns. Riqueza e equitabilidade - representam dois extremos do mesmo conceito dando a primeira medida mais peso relativo as espécies raras e a segunda maior ponderação as espécies comuns. Medidas não paramétricas de diversidade generalizaram-se a partir dos anos 60, (Hutchinson, 1959), lançando um debate sobre o significado evolutivo e ecológico da diversidade biológica. A generalização do uso de medidas de diversidade está relacionada com a hipótese diversidade-estabilidade, onde se postula que os ecossistemas são tanto mais estáveis, quanto maior a diversidade no sistema. Generalizando as idéias- a simplificação dos ecossistemas, no que respeita a sua composição em espécies (redução da diversidade), induz a uma redução da estabilidade e aumenta a suscetibilidade a invasões biológicas. Paralelo a isto tem surgido hipóteses alternativas (Johnson, 1996).
          Hipótese da Redundância- (Walker, 1992) – sugere que as espécies se agrupam em unidades funcionalmente equivalentes. O funcionamento dos ecossistemas não é afetado pela remoção de elementos redundantes, mais sim, pela afetação de “Key stones”, espécies com papel preponderante no funcionamento dos ecossistemas. Lawton (1994) introduz a hipótese nula, de que pode não existir relação alguma entre um e outro conceito. Recentemente estudos procuram detectar com análises empíricas eventuais padrões de regularidade entre categorias de ameaça entre espécies e grupos funcionais equivalentes.

II-   Biodiversidade para os Taxonomistas – medir a diferença entre os atributos taxonômicos. Ex: quanto maior o número de espécies por unidade de área, maior a probabilidade de assegurar uma elevada representação de caracteres genéticos. Numa abordagem mais complexa, as espécies não deverão ter o mesmo valor, atribuído ao fato em função do grau de diferenciação entre organismos. Vane-Wright et.al (1991) foram os primeiros a propor a aplicação do conceito para efeitos de avaliação da biodiversidade. O sistema proposto (root-weight) baseia-se na quantificação dos nós do cladograma até ao nível da espécie; é dada maior ponderação a espécie mais isolada do ponto de vista taxonômico (aquela que tiver menor número de nós). Segundo Erwin (1991), o processo de valorização de espécies isoladas taxonomicamente favorece a conservação de espécies na “senda ad extinção”.

III - Biodiversidade para os Conservacionistas – A herança naturalista, associada aos movimentos conservacionistas, valoriza o raro, o belo e o pouco habitual, o valor que se atribui ao raro não é bem diferente de “bem escasso” (Soulé, 1986). Os conceitos de raridade considerados unicamente pela extensão da distribuição geográfica é pouco informativos\; uma espécie pode ter uma distribuição mundial confinada a uma área restrita e ser bastante abundante e plástica no que concerne a utilização do se habitat. Rabinowitz (1981) esquematiza 07 combinações e formas de raridade em função da extensão da distribuição geográfica, dimensão da população e especificidade no uso do habitat.

Processos De Avaliação De Áreas Para Conservação

 Avaliação Exclusiva: Visa a seleção (segregação espacial) de áreas com estatuto especial para conservação da biodiversidade. Ex: Identificação de Parque e Reservas e outras áreas com estatuto especial. Para alcançar o objetivo defende-se a adoção de princípios orientadores: representatividade, viabilidade e vulnerabilidade.

Ø  Representatividade - procura assegurar a representação da totalidade (ou máximo) de atributos – objetivo (espécies presentes, ameaçadas), no espaço geográfico de referência; identificação de “hotspots” de riqueza, de raridade, ”Near mim set” por riqueza, “Near mim set” por raridade;
Ø  Viabilidade e Ameaça – conceitos diferentes por vezes utilizados indistintamente - está associado ao de “Minimum Vable Populacion (MVP)” e procura identificar a configuração espacial e quantitativo populacional mínimo para garantir uma probabilidade.
Ø  Vulnerabilidade – associada a fatores externos ao sistema biológico que podem afetar a viabilidade de uma determinada população. Ex: projetos de alterações de habitat, poluição, e qualquer outra forma de perturbação antrópica com efeitos nocivos para os taxa ou biótopos considerados.

Avaliação Inclusiva- Distinguem-se dos processos exclusivos por não incorporarem princípios de representatividade e objetivos de persistência de atributos. Seu objetivo não é a seleção de uma ou mais áreas num dado contexto geográfico, mas a obtenção de medidas escalonadas, de valor, comparáveis por forma a auxiliar processos de decisão em matéria de ambiente e ordenamento do território.

Considerações Finais – É conveniente distinguir a diferença entre quantificação de biodiversidade, quantificação de valor associado à biodiversidade e definição de prioridades de conservação. O primeiro implica na mensuração de uma quantidade sem que lhe seja atribuída um valor. O segundo implica a explicitação de objetivos, pressupostos e ou preferências. A mensuração de um valor deverá ser feita em função da contribuição potencial que em atributo confere a um objetivo predefinido. E o terceiro a definição de prioridades de conservação deverá corresponder ao objetivo de maximização do valor, associado a considerações sobre o nível de urgência das medidas de conservação. 1101748 Josenir Hayne Gomes (baseada no texto de Miguel Araújo).

2 comentários:

  1. O conceito de biodiversidade é de fato um “chapéu de aba larga” onde tudo parece caber! Faz-me lembrar o conceito de sustentabilidade (que por acaso também entra aqui…), com as devidas proporções. Todavia para surtir efeito, e esse deve ser o objetivo dos estudiosos da matéria, temos que procurar a definição abrangente, (quase) não cientifica, que permita comunicar a todos os seres humanos quão importante a biodiversidade é. E isto porque serão esses seres humanos os que viabilizarão a sua continuidade, os que poderão lutar pela preservação de todas as espécies que ainda não destruímos. Naturalmente que são razões científicas as que aqui nos trazem mas a desmistificação e simplificação dos temas é o primeiro passo para conseguirmos o alcance pretendido.

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  2. Boa noite José

    Muitas vezes na singeleza encontramos o verdadeiro valor daquilo que acreditamos e na sua fala "razões científicas que aqui nos trazem mas a simplificação dos temas é o primeiro passo para conseguirmos o alcance pretendido". Concordo em gênero, número e grau, partir de atitudes simples para resolver questões complexas.

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